Porque o Natal fica mais triste e depressivo com o passar dos anos?

Ahhh o Natal. Eu já tive natais espetaculares. A casa cheia de gente, a família toda reunida. A alegria de ter a criançada brincando, zuando, os parentes bebendo e curtindo. Comidas fartas e deliciosas, alcool, o clima melhor pois a data exige. A chegada do papai noel era o ponto alto da noite. O desespero de algumas crianças, a reação engraçada de outras, as piadas, brincadeiras. O amigo secreto dos adultos e os discursos de alguns emocionados na hora de revelar. As crianças excitadas com seus presentes brincando. As fotos de recordação importantes para gravar momentos dos mais velhos que já estava nos últimos anos de vida.

Estava eu a olhar algumas fotos de natal e minha felicidade de criança. Eu sempre adorei o natal. Eu adoro ganhar presentes, eu gostava do clima das pessoas, da reunião familiar. Meu sorriso, minha inocência, meu jeito elétrico, a alegria de tempos despreocupados.

Aí eu me olho no espelho hoje. Aquela criança feliz e contente que esperava o ano todo para o natal se tornou um adulto depressivo, triste, apático e perdedor. Antes a sociedade gostava de mim. Eu era criança. “Crianças primeiro” grita a mídia. Eu era o futuro, eu precisava ser protegido. Hoje se eu piso o pé na rua ou eu sou recebido como uma saraivada de cusparadas, exigências, acusações de ser da “elite dominante” por ser branco hetero e homem, ou simplesmente invisibilidade extrema. Se eu morrer agora neste momento, em 1 dia ninguém mais se lembrará de mim. O que aconteceu com aquele garoto contente esperançoso para este adulto ridículo perdedor?

Acho que o ponto de inflexão ocorreu quando o Natal passou a ser uma data triste e melancólico na qual agora eu entendo porque dezembro concentra uma alta quantidade dos suicídios totais no mundo foi quando a nova geração de crianças da família veio, os mais velhos morreram e eu engrenei no meu emprego o que significou que eu agora gasto dinheiro e não mais ganho juntando com a perda de alegria na vida como um todo.

Você chega na festa de natal e pensa em tudo o que passou no ano e vê que não saiu do lugar. Você continua sozinho sem ninguém, ano que vem será a mesma coisa de sofrimentos no trabalho. Você gasta muito dando presentes e recebe lixos em troca. Você agora é “cobrado” pelos parentes através de perguntas safadas sobre sua vida. Antes seus primos eram parceiros de brincadeiras e alegria agora eles competem com você para saber quem tem o melhor carro, namorada, mais viajado, melhor emprego, quem está melhor na vida. As crianças são o holofote da noite e tudo deve ser feito para elas e não há mais os anciões da família que já se foram. Você fica jogado num canto bebendo, ouvindo o papo dos mais velhos, levando estupros mentais de seus parentes de mesma idade. Você se lembra que o trabalho lhe espera para humilhá-lo como sempre. Você pensa que no passado, o outro dia do Natal era o dia de brincar com o que ganhou, era muito alegria pois você estava de férias. Agora o outro dia é um dia de ressaca, pensando em como todo mundo é melhor que você, na frente do computador tentando se distrair e pensando se tudo será igual no próximo natal.

E aí bate o desespero. O que antes era a maior e melhor data do ano se tornou uma obrigação terrível e humilhante. Uma data que lembra que um dia você já foi feliz, que você já foi esperançoso. Que as pessoas gostavam de você. E aí você se dá conta que o que você mais gostava na vida se perdeu e o ano INTEIRO serão para SEMPRE datas atrás de datas de trabalhar, trabalhar e não sair do lugar, de assédios, de medo de demissão, de apatia, de que sua vida será sempre isso, humilhado por vadialheres, vencido em competições familiares, invisível pra sociedade, regado a alcool no final de semana até que você complete 65 anos, se aposente e morra de câncer um dia após receber seu primeiro salário do INSS.

Eu nunca pensei que isto ia acontecer comigo. O que eu mais gostava na vida perdeu todo seu brilho. Eu acordo no dia 24 e me lembro da excitação e alegria pra chegar logo de noite e curtir. Hoje eu acordo, olho essa cara nojenta no espelho, me debruço na pia, abaixo a cabeça e seguro o choro para ninguém ouvir em casa. Não é possível que eu me tornei isso. Não é possível que a vida tenha que ser assim. Não é possível que eu esteja perdendo toda aquela alegria, esperança, contentamento, fé na vida que eu tinha de criança e adolescente. Tudo se perdeu.

Eu sou apenas um escravo capitalista do trabalho, vivendo para trabalhar.

Aquela criança feliz se tornou um zumbi ambulante esperando a morte.

Feliz Natal. Deus ilumine.